quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Mais de um!

Não tinha me dado conta, mas faz mais de um ano que (re)comecei a escrever. O Manifesto foi criado no final de novembro do ano passado. E depois de alguns textos sem periodicidade, resolvi escrever todas as quartas-feiras. Não é fácil e tem dias como hoje que não tenho nada pronto para postar. Mas a experiência tem sido muito legal. É muito bom saber que muitas pessoas de lugares distantes acessam e gostam das minhas loucuras. Valeu a todos que acompanham e vamos buscar novas ideias e contos!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Mais 90 minutos!

Hoje seria dia de festa! Aqui ou na Colômbia! Como eu queria ter visto esses dois jogos!

A vida é assim, se vai sem mais nem menos! Um segundo basta para mudar tudo! Um ato que nos leva de onde e quando estamos para o amanhã, pode ser o mesmo ato que nos leva para sempre!

No último minuto da partida semifinal, o goleiro fez a defesa da vida dele, dos companheiros de time, de uma cidade do interior de Santa Catarina e de milhões de brasileiros que amam o futebol. A defesa da vida, que os levou ao topo e muito próximo da glória, mas que também os conduziu ao lamentável acidente da última semana! É, é a vida!

Hoje são mais noventa minutos de silêncio, para depois explodir o grito!´

É CAMPEÃO! É CAMPEÃO!

EEEEE.....VAMO VAMO CHAPE! VAMO VAMO CHAPE! VAMO VAMO CHAPEE!!!

#FORÇACHAPE

ETERNOS CAMPEÕES

Assim como o povo colombiano é o Atlético Nacional que mostraram ao mundo que ainda existe humanidade! Parabéns Campeões!!

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

90 minutos de silêncio

Hoje apenas tenho vontade permanecer em silêncio.

O sonho estaria se tornando realidade neste momento.

Mas não se tornou!

90 minutos de silêncio!

#FORÇACHAPE


quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Apócrifos II

Ato II

Eve não chorou. Apenas seguiu caminhando pelo centro de uma Nova York deserta. O silêncio era angustiante. Ela não sabia para onde ir ou o que fazer, então apenas continuou andando durante todo o resto do dia.

Quando a fome e a sede começaram a incomodá-la, entrou em uma padaria. Comeu e dormiu.

Acordou com um pombo branco bicando as migalhas no chão junto aos seus cabelos. Ele não se moveu quando ela levantou a cabeça bruscamente. Apenas ficou ali, encarando-a. Arrulhou algumas vezes, olhando diretamente nos olhos da garota. E voou até a porta.

A garota não reagiu. O pombo voltou a voar e pousou aos seus pés. Arrulhou mais alto. Voou de novo. Eve entendeu e o seguiu.

O pombo a levou em direção ao sul. Quando a noite começou a cair, o pombo a guiou até um shopping. Eve se alimentou novamente e dormiu em uma loja de móveis.

Assim terminou o primeiro dia

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Deus?


Antes não havia nada. Então eu simplesmente surgi. Em meio à imensidão do infinito, tomei consciência de minha existência. O que eu era ou onde estava, não fazia a menor ideia. Então apenas continuei existindo.

Não tinha noção de tempo ou espaço. Eu era tudo e ao mesmo tempo, eu era o nada. Então, sem ter consciência do ato, me dividi em dois. Uma consciência nova, independente, com quem passei a conversar sobre nós. Tentando entender. Mas mesmo assim, não conseguíamos chegar a qualquer conclusão.

Sem me dar conta de que estava irritado com aquela existência infinita, destruí minha própria criação, minha metade. Havia sido inútil!

Neste momento de raiva incontida, numa grande explosão de sentimentos confusos (ou não eram sentimentos?), fez-se a luz.

Dela criei as estrelas, galáxias e planetas. Tentando com isso entender quem era eu, qual era meu propósito. Nada! Não obtinha respostas!

Então me reparti novamente. Em milhões, bilhões de consciências. E reuni todas elas em um lugar ao qual acabaram chamando de Terra.

Observando a evolução destas consciências, desses seres criados a partir de mim mesmo, tentei aprender e chegar às respostas sobre o que eu era. Mas minhas dúvidas também faziam parte daqueles seres, então tudo foi em vão mais uma vez.

Hoje decidi me diminuir até tornar-me apenas um daqueles pequenos pedaços que criei. Me misturar a eles, viver como eles. Será mais uma tentativa de entender o que sou, a quem minhas próprias criações chamam de Deus.

Até breve, ou até nunca mais!

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O Pato!

Quem irá pagar o Pato, Donald?

(Não gostaria de trazer política para o blog, mas hoje estou me sentindo numa realidade paralela! Esse não pode ser o mundo em que eu vivia até ontem! Fala sério: Donald Trump presidente dos Estados Unidos? Que soem as trombetas!)

(Pensei em fazer um texto fantasiando em cima das piadas com o Pato Donald assumindo a presidência da Disney, tirando o Mickey do poder após receber o apoio financeiro do Tio Patinhas, mas estou tão passado que não conseguiria. Será que rolaria um "muro" na Disney?)

(Pra fechar, uma foto que acredito dizer mais que um milhão de palavras neste dia. Não sei quem é o autor para dar os créditos. Se alguém souber, agradeço)

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Sonhos!

Eu tive um sonho!

E tenho a esperança de torna-lo realidade.

Me chamam de louco e sonhador!

Quem não é louco ou sonhador

Vai sempre desdenhar da coragem de quem ousa acreditar em sonhos!

Até que um dia vai ver que o louco não era assim tão louco

E perceber que a vida passou e ficou tarde para acreditar em seus próprios sonhos!

Sonhe a partir de agora!

Não espere nem mais um segundo!


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Apócrifos


Ato I

O som dos trovões ecoava pela Times Square. Penetrava fundo na alma de cada uma das pessoas que estavam ali reunidas desde as primeiras horas da alvorada. O pavor estava estampado em todos os rostos. Os corações estavam congelados pelo medo. Os trovões nada mais eram do que as trombetas que anunciavam o apocalipse.

No céu, milhões de vultos negros alados se aproximavam. E todos sabiam que não haveria como escapar. O arrependimento de nada adiantaria. Os atos cometidos durante toda a vida até aquele momento já estavam registrados nos livros sagrados.

Todos hipócritas e pecadores. Agora iriam pagar.

O ataque foi rápido. Os milhões de anjos desceram dos céus e arrebataram as almas dos pecadores com suas espadas ardentes. Homens, mulheres e crianças. Todos tinham pelo que pagar. E quando as espadas cortavam a carne, o corpo era imediatamente desintegrado. As almas eram sugadas pelas lâminas em chamas.

Quando o massacre terminou, apenas uma menina de oito anos permanecia em pé, viva. Assustada e aparentando estar em choque.

Foi a única alma pura deixada para trás em toda a costa leste dos Estados Unidos.


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Banho de mangueira

Ouvi as risadas de longe! A alegria se propagava nas ondas sonoras e atingiram meus ouvidos como uma doce sinfonia. O som das gotas d'água tocando o chão quente de uma tarde primaveril complementavam a música que me chamava.

Saindo da casa, vi minha mulher que regava o jardim com a mangueira virada para longe das plantas. A água molhava meu pequeno príncipe, que corria rindo aos montes só de cuequinha.

Refletida nas gotas d'água, pude ver a alegria que de seus olhos emanava.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O menino!

O menino correu, brincou e sorriu o dia inteiro! Com ele sorriu meu coração!
O brilho nos olhos do menino, fez brilhar também os meus!
Amor puro e verdadeiro!

(Te amo filho! E sei que hoje você teve um incrível Dia das Crianças)

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A Travessia


Podia ver a luz do sol alguns metros à frente. Ainda faltava um pouco, mas estava quase chegando ao destino. O calor sufocante e os mosquitos e outros insetos deixaria de ser um problema em breve.

Seu rosto estava arranhado e alguns ferimentos ainda sangravam. Foram provocados por galhos quando adentrou a densa floresta após o término da trilha. Podiam achar que ele era louco, mas não queria dividir seu sonho com ninguém. Então, partiu sozinho.

Deixou os últimos galhos e árvores para trás. E viu-se defronte à um enorme penhasco. Um pouco à direita do outro lado, uma enorme queda d’água descia como um véu. Seus olhos brilhavam.

Não localizou a ponte que deveria estar ali. Ao menos não imediatamente. Mas olhando com mais atenção, viu seu próximo desafio, um pouco à esquerda. A travessia exigiria muita, mas muita coragem.

A ponte era feita de cipós e galhos. Tinha cerca de 70 metros. E devia estar ali há muitos anos.

Prendeu uma corda de segurança em uma árvore próxima. Mas era apenas uma falsa segurança. Se a ponte não resistisse, mesmo com a corda ele poderia se ferir e estava sozinho. Poderia acabar morrendo pendurado, sem conseguir voltar. Sangrar até a morte ou o pior dos casos, morrer de fome.

Deu o primeiro passo! A ponte balançou, mas aguentou o peso.

Um passo de cada vez, avançou. Mesmo com a ansiedade aumentando por estar tão próximo ao seu objetivo, tentava manter a calma e caminhava lentamente. Chegou à metade da ponte sem problemas. O som da cachoeira aumentava a cada passo.

Mais um passo...

Sentiu a perna afundar quando a tábua em que pisou se rompeu. O coração disparou quando pensou que sua travessia tinha chegado ao fim. A ponte iria se quebrar com sua queda e ele não iria conseguir se segurar. Iria virar um pêndulo e bater com toda força nas pedras do precipício.

Mas foi somente um susto. A ponte resistiu, se segurou e conseguiu se levantar e continuar. Ainda com mais cuidado, continuou o avanço. Chegou ao outro lado suando muito e bastante ofegante.

Há poucos metros dali, estava a queda d’água. Ele sabia que ali iria encontrar a passagem para o seu sonho. Poucos passos o separavam dele.

Ouviu um zumbido e imediatamente levou à mão ao lado do pescoço. Algum inseto o picara. Começou a sentir tontura e enquanto perdia os sentidos, conseguiu pegar o inseto e arrancá-lo da pele. Ao levar a mão para frente do rosto, viu que não era um inseto. Em meio à nevoa que se formava enquanto seus sentidos o abandonavam viu o que parecia ser um dardo de madeira.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Crônicas da Vida - Curto e Grosso: João e Maria


João e Maria são namoradinhos novos. É evidente pelo modo como os dois são vistos sentados num barzinho. Lado a lado; João faz carinho na mão de Maria; rolam uns beijinhos carinhosos durante a conversa; Maria faz carinho na perna de João.

João e Maria já namoram há alguns anos e estão prestes a noivar. É evidente pelo modo como os dois são vistos sentados num barzinho. Frente a frente. João ainda faz carinho na mão de Maria; rolam uns beijinhos carinhosos durante a conversa; Maria provoca, acariciando com o pé a perna de João.

João e Maria são casados. É evidente pelo modo como os dois são vistos sentados num barzinho. Ainda frente a frente. João faz pouco carinho na mão de Maria (está preocupado com as finanças e olhando constantemente o celular); quase não rolam beijinhos carinhosos durante a “quase” conversa; Maria não faz provocações por baixo da mesa a João.

João e Maria são casados faz tempo. É evidente pelo modo como os dois são vistos sentados num barzinho. Frente a frente, mas com as crianças do lado. Ou nem sempre sentados frente a frente, visto que hora é João quem corre atrás de Pedrinho, hora é Maria. Manuela ainda é nenê e fica a maior parte do tempo dormindo no carrinho.

João e Maria são casados há muitos e muitos anos e estão prestes a se divorciar. É evidente pelo modo como os dois são vistos sentados num barzinho. Um de cada lado! Ele na zona leste da cidade, rodeado de amigos após uma partida de futebol; ela em um bar com as amigas na zona sul.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Darksiders


John recobrou os sentidos, mas ainda estava bastante atordoado. Estava caído em um beco escuro, sobre uma poça de água suja e fétida. Não tinha lembranças de como havia chegado até ali. Ou do que havia acontecido. Foi então que viu algo que o atordoou ainda mais.

Em outra poça, logo a sua frente, John viu ele mesmo, caído e com um pedaço de ferro enfiado na cabeça. Havia muito sangue no chão.

Esfregou os olhos freneticamente, esperando que ao terminar o gesto o corpo não estivesse lá. Seria apenas imaginação? Mas ao abrir os olhos novamente, lá estava ele mesmo caído e aparentemente morto. As roupas eram idênticas às que John estava usando. Jeans surrados e rasgados, camiseta branca e uma jaqueta de couro marrom bastante desgastada e velha.  

John se estapeou diversas vezes no rosto. Com força. Mas o corpo continuava lá. Não parecia imaginação. Ele então virou o homem com seu próprio rosto e checou a pulsação. Nenhum batimento. E o corpo estava frio e rígido, provavelmente morto já há algum tempo.

Antes de retirar a mão do cadáver, John sentiu uma espécie de choque percorrer todo seu braço e uma onda de lembranças atingiu sua mente.

Um bar de strip-tease. Uma, duas, muitas doses de whisky barato. Algumas cervejas quentes. Muitos dólares colocados na calcinha da loira com peitos dignos de estrelas de filmes pornôs. Ela havia sentado em seu colo e esfregado os mamilos em sua cara. O perfume era doce, mas muito diferente do perfume de Lydia! Naquela manhã, a namorada de idas e vindas desde os tempos de colégio havia deixado John: ou você deixa essa vida de crimes, ou eu deixo você! Esse ultimato fora há um mês, mas ele não acreditou.

Saiu do bar sozinho; cambaleando. Subiu na Harley Daividson e deu partida. A chuva batendo em seu rosto ajudou um pouco. Após alguns quilômetros, as doses de whisky barato e as cervejas cobraram seu preço: sentiu vontade de mijar e estava bastante enjoado. Parou a moto e saltou próximo a um beco escuro e isolado em uma área aparentemente industrial. Enquanto mijava na chuva, ficou enjoado e vomitou repentinamente. Caiu de joelhos e outro jato de bebida subiu de seu estomago queimando a garganta enquanto abria seu caminho para o mundo. Foi então que ouviu as risadas!

- Hihihihi! Hahahaha! Que cena patética! Eu nunca perderia a compostura por casa de uma puta como a Lydia!

John olhou assustado para o local de onde veio a voz. Parecia com sua própria voz. Ele escutou os passos no chão molhado, se aproximando aos poucos.

- Eu teria enfiado uma faca no meio das tetas dela! Arrancaria aquele coração mole e comeria cru! Jamais iria deixar ela mandar em mim! Mas você é um banana e deixou ela ir embora. Agora está aqui, pondo as entranhas pra fora e choramingando na chuva! Patético!

John viu horrorizado que o dono da voz era ele mesmo. Como assim? Aquilo só podia ser sonho!

“Será que além das bebidas usei alguma coisa a mais? ”  – pensou.

Mas o chute que o falador lhe deu nas costelas foi bem real. E dolorido! Todo o ar foi expelido de seus pulmões e John caiu com a cara no próprio vômito. Enquanto se contorcia, o homem voltou a falar:

- Não se preocupe! Estou aqui para ajudar! Sou o seu “eu negro”! Sua metade mais animal! Estou aqui para tomar o seu lugar! Vou matar tudo que há de bom em você e então sobrará somente o mal. Todos no mundo irão morrer! E o lado negro de cada um irá tomar essa terra! Não há como evitar! Hahahaha!

Quando o lado negro se preparava para mais um chute, John atirou-se para cima dele e o lançou ao chão. Os dois entraram num combate pela sobrevivência, como dois animais. Mas o lado negro de John parecia ser mais forte e o arremessou contra uma lixeira. John bateu com as costas e então o lado negro começou a abrir e fechar a tampa da lixeira em sua cabeça. Uma, duas, três vezes!

John já estava prestes a perder a consciência e se entregar para a morte certa, quando sentiu o cheiro doce do perfume de Lydia. A lembrança dela ativou um último ímpeto de sobrevivência em John, que conseguiu dar um coice no atacante.

A metade negra de John cambaleou andando para trás, tropeçou e caiu de costas. Sua cabeça foi trespassada por uma barra de ferro, parte de uma antiga grade que fechava o beco.

John tentou se levantar. Cambaleando, com a cabeça latejando, viu seu atacante fora de combate. Sorriu e caiu de cara no chão desmaiando.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Apatia


Queria chorar, mas secaram as lágrimas

Queria correr, mas as pernas estão cansadas

Queria gozar, mas não há prazer

Queria gritar, mas a voz acabou

Queria dormir, mas a insônia persiste

Queria sorrir, mas estou triste


(Estava voltando para casa agora à noite e escutei a música Out of Tears do Rolling Stones no rádio. Então pensei na frase que da título à canção e a poesia acima saiu!)



quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Hamilton

Hamilton estava tranquilo quando foi levado pelos policiais até o camburão. Afinal, estava apenas manifestando sua insatisfação com a atual situação do país. Antes de ser colocado no "chiqueirinho" gritou para a namorada:

- Fala pro meu pai ligar pro amigo dele que é advogado!

Tomou mais um soco do policial que o conduzia. O braço também foi torcido mais um pouquinho.

O amigo advogado do pai nada pode fazer por ele. Hamilton nunca chegou até a delegacia.

A tranquilidade virou terror quando o camburão tomou um caminho escuro e afastou-se do centro da cidade.

No jornal do dia seguinte, a manchete: "Jovem é baleado e morto em troca de tiros com a PM".

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Coração Anarquista

Meu coração anarquista
Partido
Por ter tomado partido
Em uma luta sem sentido

Triste fim de uma ideologia perdida
Partida
Partidária
Solitária

Liberdade
Igualdade
Fraternidade
Inverdade

Inversões de valores
Dissabores
Desertores
Traidores

Meu coração anarquista
Partido
Por ter tomado partido

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O Casarão - parte 3


O professor Rodolfo Freitas foi o primeiro a correr. Jorge, o assistente e namorado de Soraia também correu quase que imediatamente. Subiram as escadas saltando dois ou três degraus de cada vez e deram de cara com a porta do banheiro fechada. O professor colocou as mãos na maçaneta velha e enferrujada, mas ela não girou e a porta não se mexeu. Tentou forçar, mas por mais força que empregasse, não houve sequer um mínimo sinal de movimento da maçaneta ou da porta.

Os gritos de Soraia eram desesperados e extremamente altos. Não eram um pedido de socorro, mas os dois homens parados do lado de fora do banheiro sentiam que era isso que os gritos representavam. Algo estava acontecendo com ela dentro do cômodo e eles tentavam mover a porta com urgência.

Chamaram por ela e perguntaram o que estava acontecendo, mas como resposta somente mais gritos assustados.

Jorge pediu para o professor se afastar. Também tomou certa distância da porta e correu de encontro a ela, colidindo com o ombro direito e tentando forçar a abertura. Tentou por três ou quatro vezes, cada vez com mais força. A porta não deu nenhum sinal de estar cedendo.

O professor o segurou, quando Jorge se preparava para mais uma tentativa. Apontou para a fresta abaixo da porta. Havia água escorrendo pelo vão. Muita água. Então disse:

- Na bolsa amarela que deixei sobre a antiga mesa da sala de jantar, há um pé de cabra. Corra até lá para buscá-lo.

Jorge desceu as escadas ainda sob o som dos gritos desesperados da namorada. Os gritos eram cada vez mais ásperos; roucos. Como se a garganta de Soraia estivesse sendo machucada pelo terror.

Após cerca de cinco minutos, Jorge retornou ofegante e suando, carregando o pé de cabra. No desespero, nem reparou que os gritos de Soraia haviam cessado.

O professor tentava abrir a porta do banheiro aos chutes, como os policiais fazem nos filmes de ação de Hollywood. Mesmo chutando com força, a porta não se mexia.

- Por que demorou tanto? – Perguntou, limpando com a manga da camisa o suor que também escorria por seu rosto, fazendo os olhos arderem.

- Não estava na sala de jantar! A bolsa amarela estava na cozinha! Só fui notar depois de revirar as outras duas que estavam no lugar que o senhor disse!

Jorge enfiou o pé de cabra entre a porta e o batente, próximo da fechadura e começou a forçar. A madeira lascou um pouco e a extremidade da ferramenta penetrou um pouco mais no vão. O professor também começou a forçar o pé de cabra. Com a força e o peso dos dois, a alavanca ganhou eficiência, arrancando lascas da porta e do batente. Repentinamente, a fechadura cedeu e a porta abriu com um estalo.

Então, foi a vez de Jorge começar a gritar.

Havia sangue misturado com a água que escorria da torneira arrancada da parede. Soraia estava caída, com o lado esquerdo do rosto afundado. O olho esquerdo havia saltado da órbita e olhava para eles ainda preso ao nervo. Também era possível ver um pouco de massa cinzenta no chão.

 Aparentemente, Soraia havia caído da escada e batido com a cabeça na antiga pia de porcelana. Um pedaço dela jazia abaixo de seu rosto desfigurado. A porcelana branca estava imunda, mas mesmo assim realçava o sangue que escorria por ela. A queda parecera ter sido tão violenta, que arrancara também a velha e enferrujada torneira da parede.

A água suja jorrava como sangue pulsando de uma artéria perfurada. Lavava o sangue de Soraia daquela cena grotesca. Sua vida já havia escoado pelo vão da porta e descido as escadas junto ao riacho de água podre que escapava da parede.

A água suja também lavava as lágrimas de Jorge.

O professor passou um braço pelos ombros do rapaz para consolá-lo.


(Pessoal, não deixem de conhecer e se inscrever no canal do Manifesto Irracional no YouTube! Segue o link: https://www.youtube.com/channel/UCp2xKO4uYcocVGlb9H9nG5w)

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A morte do escritoe

De tanto escrever, foi consumido pelas páginas. Morto pelos assassinos criados para suas histórias. Descanse em paz! (Exausto! Acabei de chegar de um workshop sobre Escrita Criativa. Perdoem o texto curto, mas estou acabado! Semana que vem prometo a continuação de "A ilha" ou "O Casarão". Até!)

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Stand by me - The body

Em 08 de agosto de 1986, chegava aos cinemas um dos maiores clássicos da Sessão da Tarde: Conta Comigo! Pra mim, um dos clássicos para a vida toda. Não importa quantas vezes eu já tenha visto, choro em todas elas. E quanto mais velho vou ficando, mais choro ao ver o filme. É impressionante como as memórias permanecem adormecidas e são trazidas à tona! Lembranças da infância, das aventuras no bairro, dos amigos que a vida nos trouxe e depois levou pra longe! Saudades de todos que fizeram minha parte da minha infância e adolescência! Esse filme, baseado no conto "O corpo" de Stephen King, fala sobre a perda da inocência e a dura realidade da vida - a morte. E como cada um lida com ela. Uma aventura aparentemente inocente, mas com uma profundidade tremenda. Quem ainda não viu o filme e leu o conto, recomendo que o faça. Trinta anos! Espero que possa ver novamente, por mais trinta anos e depois mais trinta anos!

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Alguns microcontos

"Cavaleiro do Apocalipse"

- Sou o anti-cristo!

Dizendo isso, apertou o botão que disparou os mísseis que trariam o fim do mundo.

E todas as almas foram condenadas!

***

"Jacob"

O apocalipse poderia ter sido evitado. Mas ninguém reparou na marca de nascença em Jacob. Bastava matá-lo enquanto pequeno.

Ele cresceu!

***

"Pueblo Calas"

Uma noite por ano, demônios andam nas ruas em Pueblo Calas. Viajantes incrédulos são suas principais vítimas. Para eles, a noite é eterna.

***

(Testando alguns micro contos para um concurso indicado por uma amiga. As inscrições vão até setembro, portanto se alguém quiser participar também, segue o link http://microcontosifsp.wix.com/ifsp#!blank-1/c1nhg

E pra quem ainda não viu, o Manifesto está indo pro YouTube como Manifesto Nerd. No primeiro vídeo falei sobre a série "Stranger Things". Acessem, comentem, deixem um joinha e não esqueçam de se inscrever no canal. Valeu!)



quarta-feira, 27 de julho de 2016

Animais


Porcos! Nojentos e sujos!

Cães!

É a lei do mais forte!

Fazemos de conta que somos amigos.

Então, vou morder seu tornozelo!

Quando você menos esperar.

Enfiar uma faca em suas costas!

Porcos! Nojentos e sujos!

Cães de guerra!

Não há como me parar!

Todos nós temos um lado negro!

O lado escuro da lua!

Fique esperto na rua!

Se você bobear, eu vou te pegar!

Vou te adular, bajular!

E então vou enfiar uma faca em suas costas!

Porcos, nojentos e sujos!

Você é uma ovelha!

Somente uma ovelha!

Eu sou o lobo!

Louco!

Porco, nojento e sujo!

Você não escapa!

Um dia desses, ao vento!

(Pessoal, não vou mais fazer a sessão de poesias da sexta-feira. Estava escrevendo apenas para postar e não estava gostando dos resultados. Então, quando tiver alguma coisa que eu ache legal, vou colocar às quartas mesmo. E aí, gostaram dessa? Sacaram a inspiração? Outro recado: lancei um canal do blog no YouTube no último sábado. O vídeo fala sobre a série Stranger Things da Netflix. Podem ver sem medo, não tem Spoilers.  Ainda meio travado, meio de improviso, mas acessem e se inscrevam lá! Deixem um "joinha" e um alô nos comentários! Segue o link do Manifesto Nerd: https://www.youtube.com/watch?v=VLink8gdyj8)




quarta-feira, 20 de julho de 2016

O Casarão - parte 2


Soraia subiu as escadas do antigo casarão com duas bolsas cheias de equipamentos penduradas nos braços e mais duas câmeras com as correias enroladas no pescoço. Até que não tinha sido tão ruim entrar na casa quanto parecera quando estavam do outro lado da rua. Havia sim algo de sinistro com o velho casarão, mas aquilo devia ser apenas fruto das histórias que ela havia escutado sobre o local.

Não sendo uma nativa da cidade, Soraia soube das lendas apenas poucos dias atrás, quando o namorado pediu se ela não poderia substituir o outro assistente do Professor Rodolfo Freitas. O rapaz havia quebrado o pé, ao escorregar na escadaria defronte à Biblioteca Municipal, justamente após fazer algumas pesquisas sobre a mansão abandonada. Soraia topou, achando graça no tipo de pesquisa feita pelo professor e sem dar tanta credibilidade às histórias do local. Foi só após ter diversos pesadelos com a casa, que passou a ter certo receio.

No topo das escadas, Soraia encontrou a porta do banheiro onde o professor queria instalar aqueles equipamentos. Entrou e começou a posicionar os medidores de campos eletromagnéticos, microfones e câmeras.

Após alguns minutos no cômodo, reparou que a pia estava pingando. Gota após gota, vagarosamente. No silêncio quase sepulcral da casa, o som das gotas caindo na água suja acumulada no ralo entupido, começou a incomodá-la.  Apertando a torneira velha e enferrujada, as gotas pararam de cair. Soraia continuou a instalar os equipamentos.

Concentrada na colocação de uma câmera no canto superior do teto, sobre um pequeno banquinho dobrável que ela havia subido juntamente com o restante do equipamento, Soraia quase caiu com o susto que levou. A torneira voltou a pingar de repente. Ela riu de si mesma, mas no fundo o riso era para aliviar a tensão. Havia algo de sinistro com o velho casarão e a sensação de Soraia sobre isso estava aumentando. Apertou novamente a torneira.

Ao se virar, novas gotas caíram. A velocidade delas aumentava. Pingando cada vez mais rápido. Cada vez mais rápido. Os ombros de Soraia seriam um indicativo para qualquer observador de que agora ela estava extremamente tensa. Tentou apertar novamente a torneira. Mas as gotas não paravam. Os pingos caiam cada vez mais rápido. Cada vez mais rápido.

O barulho das gotas caindo na água podre e parada, acumulada no ralo entupido, parecia incomodar cada vez mais. Seus ouvidos começaram a doer a cada pingo. O fluxo aumentou mais e Soraia tirou as mãos da velha torneira enferrujada e as levou aos ouvidos. Tentava fazer o som diminuir. Mas o som das gotas parecia estar diretamente em sua cabeça. Cada vez mais rápido. Cada vez mais alto.

Então Soraia ouviu o próprio grito de horror, quando a porta do banheiro bateu sozinha.
(Demorei, mas postei! Segunda parte do texto de 06/07! E ainda vai ter mais sobre o velho casarão! Aguardem! Galera, hoje gravei o primeiro vídeo do Manifesto Irracional para o YouTube. Em breve vou colocar no ar. Ainda sem muita edição, no improviso, mas com o peito aberto para trocar mais ideias com vocês de um jeito diferente. Valeu!)

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Impressões - A Velha Casa na Colina (Fábio M. Barreto)


É preciso ter muita coragem para transitar por um tema já explorado à exaustão por muitos autores. São várias as histórias sobre casas assombradas na literatura e no cinema. Entre elas temos O Iluminado, A Casa Negra, 1408 (só para citar algumas do mestre Stephen King), Poltergeist, A Mulher de Preto, Horror em Amytiville, Os Outros.

No conto “A Velha Casa na Colina”, Fábio M. Barreto não só tem essa coragem, como escreve uma clássica história de horror com muita competência. Poderia até mesmo ter escrito um romance.

Já nas primeiras linhas, o autor nos transporta para nossa própria infância, ao colocar dois amigos brincando e se desafiando a encarar a casa mal-assombrada da pequena cidade de Pedraskaen. Quem é que não viveu histórias semelhantes quando criança, com alguma casa velha e abandonada no bairro em que morava?

É nesse ponto que um evento inesperado muda para sempre a vida do protagonista!

 A história então se desenvolve e flui muito naturalmente. E nos leva a uma pergunta: será que os fantasmas que assombram a casa e o protagonista são reais?

Levei cerca de uma hora na leitura, mas gostaria de passar dias nos aposentos da velha casa na colina de Pedraskaen. O conto também serve como um ótimo dever de casa para quem está tentando exercer a arte da escrita.

“A Velha Casa na Colina”, de Fábio M. Barreto está disponível na Amazon por R$ 1,99.
(A semana foi corrida, então não terminei o conto da última quarta. Peço desculpas aos leitores assíduos! Mas prometo me esforçar para termina-lo para a próxima semana. Hoje vou de dica de leitura. Muito legal o conto! E já li também o livro dele "Filhos do Fim do Mundo". Outra recomendação, vou ver se consigo reler e deixar também minhas impressões um dia desses. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre o Fábio e sobre o mundo dos escritores seguem algumas das minhas inspirações: o site www.fabiombarreto.com e o Podcast Gente que Escreve)

sexta-feira, 8 de julho de 2016


Brincadeira de criança
Sonhos em uma ciranda
Vamos todos “criançar”
Vamos dar a meia volta
Ainda há esperança!




quarta-feira, 6 de julho de 2016

O casarão



Muitos juram que ainda hoje é possível ouvir os gritos. O velho casarão já teve vários donos ao longo dos últimos 100 anos. Nenhum deles conseguiu sequer terminar as reformas começadas. Os que tentaram se mudar para lá, ficaram poucos dias. Aqueles que permaneceram na casa por mais de 15 dias, insistindo que eram apenas fenômenos naturais, morreram solitários, internados no Hospital Psiquiátrico Caibar Schutel.
Ninguém sabe a história verdadeira daquele casarão. Muitas são as versões. O que eu descobri, após pesquisar documentos antigos de propriedade, jornais da época e algumas gravações de áudio e vídeo feitas no local é que um assassinato macabro ocorreu no local.
Pude sentir a energia que emanava da casa há cerca de uma quadra de distância. O medidor de campos eletromagnéticos oscilava cada vez mais a cada passo que eu dava em direção ao local. Não ouvi os gritos que muitos juram ouvir. O silêncio era absoluto. Nem grilos, nem morcegos. Nem mesmo o vento fazia-se ouvir naquela quadra. Todos os ruídos distantes da cidade sumiram quando pisei na calçada defronte ao portão enferrujado do velho casarão.
Meu assistente e sua namorada, que também foi para nos ajudar a implantar os equipamentos de áudio e vídeo, hesitaram do outro lado da rua. Mas tomaram coragem e me seguiram quando cruzei os limites do terreno, empurrando o portão. Tive que fazer um esforço tremendo para abri-lo, mas apesar disso o portão cedeu sem fazer ruído.
O que aconteceu nos cinco dias que passamos lá dentro, conto para vocês na semana que vem!
(Galera, desculpem a sacanagem! Mas vai começar o jogo do tricolor do meu coração na Libertadores! Vou retomar esse texto na próxima quarta-feira. Do mesmo jeito que o texto que deve gerar meu primeiro romance – publicado há duas semanas – a história desse casarão estou “baseando” em outra lenda local aqui da minha cidade. E não são as duas únicas histórias “sobrenaturais” que temos em Araraquara. Acho que dá samba compilar e romancear algumas delas. Agora “bora” pro jogo! Vamos São Paulo!)


sexta-feira, 1 de julho de 2016

Capitalizando o Inicial

Eu sou um passageiro
Cego para assuntos banais
Se eu for ligar pro que é que vão falar não faço nada
Todas as noites são iguais
Eu já não sinto nada sou todo torpor
Eu não vou pro inferno
Eu não consigo mais me concentrar
Cercado por todos os lados
Entre quatro paredes
Esperando uma intervenção divina
Procurando independência
Estou perdido, sei que estou
Rodando pelos subúrbios escuros
Sob um leve desespero
Qualquer balaco ilegal ou proibido
Num canto escuro
Perdendo meu tempo a noite inteira
Eu não vou pro céu também
O poder de dominar é tentador
Não tenho nada a não ser as paredes
Pequenos goles de solidão
Vão falar que você usa drogas e diz coisas sem sentido
Eu vou tentar alguma coisa para melhorar
Que me leve, que me leva daqui
Um passo sem pensar
E a companhia dos que caem na rede
Num canto escuro pequenos goles de solidão
Cercado por todos os lados

(Essa é das antigas! Só fui misturando várias frases de músicas do Capital Inicial sem pensar. Não é que no final fez algum sentido! Ou será que não?)




quarta-feira, 29 de junho de 2016

Microconto Interestelar (baseado em músicas de Pink Floyd)


Após entrar no buraco negro, o astronauta voltou a ser humano. Só não teve consciência disso!

(A postagem de hoje é curta, mas espero que gostem! Escutem a música Astronomy Domine do Pink Floyd, leiam o microconto e reflitam sobre ele ao som de Interstellar Overdrive, também do Pink Floyd. Boa viagem! Outra inspiração para esse texto foi "Uma breve história do tempo" de Stephen Hawking. É, acho que estou ficando maluco....rs....estou lendo mesmo um livro de Física!)





sexta-feira, 24 de junho de 2016

Legado

Vi
Vejo
Verei

Fui
Sou
Serei

Aqui só ficarei
Pelo legado que deixarei
Pois um dia
Assim como todos
Pra outro plano também irei

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Guerra na terra do Sol


A noite estava agradável. Do alto da cúpula da Igreja Matriz de São Bento, uma figura feminina sentia a brisa acariciar seu rosto e fazer seus cabelos vermelhos dançarem. Conseguia sentir os odores de toda a cidade. Observando. Esperando.

***

- Boa noite, meu amor! Nos vemos amanhã depois da aula?

- Sim, meu lindo! Você sabe que eu fico com saudades o dia inteiro, todos os dias, né!

Daniel beijou Mariana após deixá-la em casa após comerem um lanche. Ele estava apaixonado e achava que ela também. Haviam se conhecido em um aniversário de um amigo em comum. A conexão foi imediata. Conversaram somente entre eles a noite inteira e trocaram telefones. Já no dia seguinte, tiveram o primeiro encontro e também o primeiro beijo. Foi mágico! Daniel contava as horas todos os dias, para sair do trabalho e encontrar Mariana.

Seguiu seu caminho após ela entrar em casa, caminhando sorridente e assobiando uma canção. Sentia a brisa daquela noite agradável tocando seu rosto. Não imaginava que não veria Mariana no dia seguinte. Nem que talvez não a veria nunca mais.

***

Mariana fechou a porta após se despedir de Daniel. Seu coração batia forte no peito, como todas as vezes em que estava com ele. Tinham uma conexão especial. Espiritual. Era mágico.

Fazia pouco tempo, 3 meses apenas desde que se conheceram, mas Mariana sabia que era pra sempre.

“Se Daniel me pedisse em casamento amanhã, diria sim na hora!” -  pensou sorrindo, enquanto colocava a camisola para se deitar.

Sentiu a brisa suave e fresca daquela noite em seu quarto e percebeu então que a janela estava entreaberta. Nem teve tempo de raciocinar. Alguém a agarrou pelas costas e uma mão com luvas negras segurou um pano embebido em formol contra sua boca e seu nariz. Mariana desmaiou quase imediatamente, sem nem mesmo ter tempo para se assustar.

****

Dario Carvalho estava sentado em sua velha cadeira de balanço. A casa estava totalmente escura. Quem passava pela rua, geralmente atravessava para o outro lado, com medo do grande casarão abandonado bem no centro da cidade. O velho pensava nas consequências de atos há muito tempo esquecidos pela maioria da população da cidade. Mas não por ele, que há 200 anos, teve papel decisivo no desenrolar dos fatos. E agora tudo convergia para o final, com a maldição sendo realizada e ninguém para impedir.

****

A figura feminina no alto da cúpula da igreja Matriz de São Bento avistou Daniel quando ele cruzou o pontilhão sob a linha férrea, onde ficava a antiga estação ferroviária da cidade. De longe percebeu que o rapaz caminhava feliz e totalmente alheio às figuras que o seguiam nas sombras.

Ela havia jurado não interferir nos eventos que estavam por vir, mas o juramento estava prestes a ser quebrado. Ela já deixara inocentes sofrerem no passado, sem saber que faziam parte de um jogo muito maior. Desta vez ela não iria deixar que nenhum mal acontecesse com eles. Ao menos iria tentar.

Continuou observando Daniel e seus perseguidores. A brisa suave da noite agora era um vento forte e gelado.  Nuvens de chuva começaram a surgir no horizonte, trazendo alguns relâmpagos.

***
(Desde jovem quero escrever um livro. Tenho muitas ideias, mas todas guardadas e sem ganhar vida. Fiquei muito tempo sem escrever e voltei no final do ano passado, como quem acompanha o blog já deve saber. Estou "treinando" bastante e estudando um pouco sobre estrutura e escrita criativa. Hoje comecei este texto, sem pretensão e a ideia foi crescendo. Fui ligando uma coisa com outra e agora a pouco, antes do jantar, percebi que esse texto é o embrião do meu primeiro romance. A ideia veio e me apaixonei por ela quase que instantaneamente. Fantasia, mistério, monstros, romance, aventura....esses são alguns ingredientes. Talvez quem for de Araraquara pode já ter uma ideia do que será o pano de fundo da história....e quem sabe quem não for, um dia não se depare com o livro de minha autoria na estante de alguma livraria e conheça um pouco da história (romanceada) de uma cidade média do interior paulista! Vai ser uma longa e inesperada jornada).




sexta-feira, 17 de junho de 2016

De alegrias e de tristezas
Faço poesia

De incertezas, crio atos
Muitas vezes falhos

Certezas não existem
Somente o inevitável beijo da morte
Com sorte demorará a chegar

Da poesia, faço a vida!



quarta-feira, 15 de junho de 2016

O poder das histórias

A noite já havia chegado há algumas horas. Sozinho em casa, eu assistia a um filme de terror com as janelas abertas. O calor estava insuportável e não tínhamos ar condicionado. Nem mesmo um mísero ventilador. Eu estava com uns 16 ou 17 anos e já conhecia a história do filme. Ele era baseado no meu livro predileto do mestre Stephen King: O Cemitério. O título do filme foi esticado: Cemitério Maldito. E acho que é uma boa adaptação. Quase fiel ao livro.

É a história de uma família que se muda para uma cidadezinha pequena, em uma casa próxima a uma estrada com um pesado tráfego de caminhões pesados. O pai, professor universitário, a esposa e um filhinho de cerca de 2 anos. No fundo da casa há uma trilha, que leva até um antigo cemitério de animais. Uma lenda diz que um pouco além, existe um cemitério indígena onde o que é enterrado volta à vida.

O livro é fantástico, muito tenso. Foram vários os sustos com o toque do telefone ou outro barulho qualquer na rua. Mas naquela noite, quando eu assistia ao filme, algo muito assustador aconteceu.

Como disse, estava sozinho em casa. Meus pais haviam viajado. Janelas abertas e o filme no videocassete. É, ainda era nessa época! A história foi se desenrolando. Tudo escuro na casa! Por volta da metade do filme, o pai da família encontra o gato morto na beira da estrada. Mãe e filho estavam viajando também. Para não os decepcionar com a morte do bichano, o pai resolve tentar enterrá-lo no cemitério indígena. E não é que o gato volta!

Então, bem na cena em que o gato aparece em cima da geladeira ou de um armário, com os olhos vermelhos e brilhantes possuídos pelo mal.... Pulei da cama de uma vez só! O coração foi parar na boca e por pouco não saltou ao chão. Foi assustador: dois gatos resolveram se pegar e gritar bem debaixo da janela aberta. Juro por deus, não estou brincando. Quase tive um enfarte!

Até hoje, foi o maior susto que já levei na vida.


(A história é verídica. Me lembrei dela ontem, ao refletir sobre o poder que as histórias tem sobre nós. Um livro é capaz de fazer diversas emoções aflorarem. Ontem terminei de ler O Jogador Nr. 1, de Ernest Cline. Em determinado momento da história, fui pego tão de surpresa por uma cena que soltei um “puta que o pariu” em voz alta. É por isso que amo ler um livro atrás do outro e é esse também o principal motivo que me leva a escrever. Espero que nem que seja um pouquinho só, eu consiga transmitir para vocês algumas emoções. Obrigado por lerem minhas loucuras.)

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Lição (?)


Não seja Jorge
Seja o Dragão!
Não seja a mão,
Que colhe a flor!
Plante o bem.
Seja a semente!

Deseje a felicidade,
Erradique a maldade
De seu coração!

Se receber pedradas,
Devolva-as, lapidadas!
Presenteie
Não revide!

Não seja Jorge,
Nem seja o Dragão!
Seja um cão,
Abane sempre o rabo!
Sorria!



quarta-feira, 8 de junho de 2016

O único e inevitável nocaute! (Muhammad Ali 1942-2016)

Logo ao acordar no último sábado fiquei muito triste. Havíamos perdido mais um ídolo, o incomparável Muhammad Ali. O homem que nunca sofreu um nocaute nos ringues, finalmente beijou a lona. Derrubado por um adversário que um dia irá derrubar todos nós.
Pode até parecer piegas, mas vai-se o homem e fica o mito! Não digo isso apenas pelas lutas incríveis que ele travou nos ringues. Algumas delas, vi em reprises e o cara era realmente fantástico. Como ele mesmo dizia, flutuava como uma borboleta e picava como uma abelha.
Digo que esse homem é um mito por uma história que minha mãe me contou sobre ele quando eu era pequeno. Hoje sei que a história não foi bem do jeito que vou contar para vocês, mas mesmo assim é uma lição e tanto que ele nos ensinou com ela. Foi assim que a ouvi de minha mãezinha e posso dizer que fez parte da formação do meu caráter.
Acho que ele ainda era Cassius Clay. Depois de ganhar a medalha de ouro em uma Olímpiada, Ali teria entrado em um restaurante que só servia pessoas brancas. O atendente foi logo tratando de dizer que negros não eram bem-vindos naquele lugar e pedindo para ele ir embora. Alguém teria informado ao proprietário do restaurante que se tratava de um campeão olímpico, que então falou que neste caso não haveria problema em servi-lo. Ali se revoltou e deixou o restaurante praguejando. Pegou a medalha que trazia consigo e a atirou em um rio, pois ela não iria defini-lo. Ele era negro como todos os outros que não podiam comer naquele lugar por razão de um preconceito imbecil.
A história contada pelo próprio Muhammad Ali é diferente, pois ele foi enxotado do restaurante. Mas o importante é a mensagem que ele nos passou ao atirar a medalha no rio. Ele era uma pessoa, independentemente de cor ou credo. Independente de uma medalha de ouro.
Dia 3 de junho de 2016 perdemos mais um dos grandes homens que passaram por nosso mundo. Perdemos mais um dos bons! Continuamos nós, os maus, que em muitas de nossas atitudes não damos importância ao próximo. Que temos atitudes mesquinhas; não nos colocamos no lugar daqueles que cruzam nosso caminho; que temos preconceitos estúpidos.
Procuro me espelhar em pessoas especiais e mesmo sendo apenas um sonhador, acredito que a partir de nós nasce a mudança em todas as outras pessoas.
Seja você a mudança que tanto deseja para o mundo!


sexta-feira, 3 de junho de 2016

Palavras ao vento

Apenas palavras ao vento
Maldito rebento
De um estupro ideológico
Ilógico
Apenas palavras ao vento

Semeando palavras
em brancas páginas
Buscando lógica onde não há
Apenas palavras ao vento

Sinto o sentido surreal
De ideias banais
Brotando em meus pensamentos
Mais algumas palavras ao vento

Sereno, ao relento
Brado à Lua que me ouça
Mas ela não me escuta
Apenas palavras ao vento

Onipresente, mas inconsciente
Rogo a Deus onipotente
Impotente, não ouço trombetas
Apenas palavras ao vento

(Primeira postagem da nova sessão Poesias Irracionais. Agora além da quarta-feira com contos e crônicas, a sexta será dia das minhas loucuras poéticas!)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

A História de Kanrock Dragão da Montanha


Esta é a história de um homem que caminha rumo ao desconhecido. Sem saber os motivos que o levam a isso, mas com uma certeza; deve continuar em frente. A história aqui contada foi, e continua sendo escrita por Norhorn Coração de Aço.


Capitulo I - Um nascimento; um desafio.


A escuridão era quase total nas montanhas da região de Sang naquela noite fria. Somente era possível enxergar o recorte dos grandes picos no horizonte, quando os olhos dos Deuses brilhavam em relâmpagos. O estrondo dos trovões era ensurdecedor, mas não encobria o “uivo” dos ventos, que castigavam as rochas impiedosamente. Na pequena vila de Sangren, que ficava mais ou menos na metade da encosta, uma modesta cabana, um pouco mais afastada, lutava para permanecer em seu lugar. E havia outra luta acontecendo lá dentro; a luta de uma mulher contra a dor do parto.


Os gritos eram uma mescla da dor com o desespero. O desejo de que tudo em volta não mais existisse era um dos únicos pensamentos que Alliora Estrela da Manhã conseguia ter. Um dos únicos porque havia algo mais em que ela pensava; a morte.


Não tinha sido assim em seu outro parto, quando ela deu à luz ao primeiro; aquele que levaria consigo o destino de uma família. Beldalis Vento da Montanha era seu nome, e ele teria um papel muito importante no destino daquele que viria ao mundo em uma noite escura de tempestade. A dor havia sido menor e tudo havia acontecido num curto intervalo entre duas brisas. Mas agora, até mesmo Beldac Montanha Escura, parecia estar com medo. Seus olhos estavam fixos, imóveis, assustados. Nem mesmo os gritos de sua bela e amada esposa pareciam tirá-lo do transe em que estava. Via a morte, que respondera aos chamados de Alliora. Tudo estava perdido.



Então, um forte vento abriu a porta com violência e a escuridão foi extinta novamente por alguns segundos, quando um raio atingiu uma árvore próxima. E com a luz, uma esperança surgiu. Beldalis estava voltando, e com ele vinha Norhorn Coração de Aço, irmão de Alliora.
Beldac, então, pareceu sair de seu transe e dirigiu-se rapidamente até a porta, bloqueando a entrada dos dois. E com uma voz sombria disse que Norhrn não era bem-vindo em seu lar:

- Não ouse se aproximar, você não deve interferir no destino. Você já tentou uma vez, quando quis impedir que eu me casasse com ela. Agora ela é minha esposa, está em minha casa e não há nada que você possa fazer. Se a morte tiver que levá-la junto com meu segundo filho, é assim que tem que ser.


Norhorn levantou a cabeça e olhou profundamente nos olhos dele.


- Você e suas palavras sobre destino. Quem é você para falar sobre uma coisa que não entende?

Empurrou Beldac, entrou na cabana em silêncio e dirigiu-se até o leito. Sentia a dor e o desespero de sua irmã cortando o ar. Isso feria seu nobre coração.


Ajoelhou ao lado da cama e começou a falar em uma língua desconhecida. Suas palavras eram doces, mas em alguns momentos pareciam desafiar alguma coisa. Por cerca de cinco minutos ele continuou falando e a paz foi tomando conta de Alliora, que adormeceu. O choro de uma criança cortou o silêncio, que agora era absoluto, mesmo com a tempestade que castigava a região. Norhorn pegou a criança recém-nascida e a ergueu.


- Minha querida irmã, você trouxe mais um menino ao mundo. E do mesmo modo que a chegada dele foi difícil, também será assim a jornada. Ele precisa de um nome que lhe traga força e confiança. Ele será Kanrock Dragão da Montanha e assim terá a força e resistência das rochas destas terras e a sabedoria e inteligência dos grandes dragões que habitaram este mundo em eras passadas.


Beldac interrompeu furioso.


- Como ousa querer nomear aquele que tem meu sangue, ferreiro insolente.

Alliora respondeu com firmeza.

- Ele também tem o meu sangue, que corre da mesma forma nas veias de meu irmão. E se não fosse por Norhorn nem eu e nem seu segundo filho estaríamos aqui agora. Então, como mãe, faço minhas as palavras de meu irmão. Kanrock Dragão da Montanha será o nome dele.

- Se assim o quer, minha amada Alliora, assim será então. – respondeu Beldac se virando e caminhando para fora da cabana com um brilho sinistro nos olhos – Assim será!

Enquanto se afastava, dirigindo-se para o centro da vila, dois raios simultâneos atingiram as árvores que ficavam ao lado da casa.

+++ 

 (Este texto foi escrito em 2006, quando eu estava criando uma personagem para uma campanha de Dragonlance - RPG medieval. Hoje resolvi reeditá-lo e compartilhá-lo com vocês. Essa campanha foi épica, principalmente porque os jogadores criaram personagens fantásticas, com profundidade de detalhes e o mestre soube "encaixar" muito bem os detalhes de cada um deles na história. Ainda penso em desenvolver essa história de Kanrock, talvez em um conto ou então uma noveleta - apesar de várias ideias, ainda estou tímido para tentar escrever um romance)



quarta-feira, 25 de maio de 2016

Chapeuzinho Vermelho Revisited (CV)


A cesta de doces foi preparada com muito cuidado pela mãe de Chapeuzinho Vermelho. A menina ainda não havia acordado. Quando levantasse, bastava tomar o café da manhã rapidamente e então a caminhada até o morro vizinho para entregar a encomenda para a Vovozinha.

Enfrentar o asfalto não era uma tarefa fácil, principalmente depois das várias passagens pela polícia. Como era menor, Chapeuzinho sempre se safara. Vovozinha tinha ótimos advogados a serviço da facção. Mas a polícia já a conhecia, então ela tinha que redobrar os cuidados quando fosse entregar as encomendas.

O carregamento havia chegado na noite anterior. Cinquenta quilos de pasta de coca pura. A entrega era sempre feita no morro da Chapeuzinho, de barco, em um braço de mangue que ficava no lado oposto ao da cidade. A escuridão e o acesso difícil ocultavam as atividades da polícia.

Chapeuzinho acordou ainda na madrugada. Colocou sua capa vermelha e escondeu duas pistolas na cintura. Comeu com a mãe os pães, tomou o café com leite e preparou-se para sair. Beijou a mãe e dirigiu-se para a porta do barraco. Foi interrompida pela mãe ao tocar a maçaneta.

- Se vir aquele filho da puta do Lobo Mau, mete uma azeitona nele! Não dê mole, hein!

- Pode deixar, Mamãe! Se eu cruzar com ele dessa vez, ele não vai nem ver o que o atingiu!

Chapeuzinho saiu cantarolando um funk. Caminhava com cuidado pelos becos e vielas. Passou por alguns moradores da comunidade que já se dirigiam ao trabalho. Todos a olhavam com um misto de medo e respeito. Afinal, era a neta preferida da Vovozinha.

No morro não havia problemas. O pessoal da comunidade dava cobertura caso os “alemão” resolvessem subir. Mas as cinco quadras que separavam os morros vizinhos eram o grande problema. Não era fácil achar cobertura. Mas a menina estava com sorte hoje! Uma moto com um rapaz se aproximou quando ela ia deixar a proteção do morro.

- Chapéu, Chapéu! Como vai minha gatinha?

- Marquinhos VP, quando foi que saiu da cadeia?

- Ih gata, os maluco me deram o tal de induto de dia das mães! Aí só não voltei, morou! Tava com saudade de tu, minha nega!

- Eu também tava! Mas agora tenho que ir até a Vovó, levar esses doces! – disse mostrando a cesta.

- Sobe aí que a gente corta esse asfalto rapidinho! Não vai ter alemão pra te pegar hoje! Quem vai te pegar depois sou eu!

Chapeuzinho subiu na garupa, com a cesta entre ela e Marquinhos VP. Ele arrancou com a moto em alta velocidade e em pouco tempo pararam ao pé do Morro da Vovó.

- Vai lá, Chapéu! Depois da entrega, vou te levar prum motel pra tu relaxar numa banheira de espuma!

Chapeuzinho subiu o morro. O barraco da Vovó ficava bem na parte de cima, com visão de todos os pontos de chegada. Bateu na porta quando chegou.

- Entre minha netinha. Vovó estava te esperando. Estou meio gripada e ainda estou deitada no quarto.

Ao atravessar a porta da sala para quarto, Chapeuzinho foi surpreendida pelo Lobo Mau. Ele estava com uma equipe de seis homens fortemente armados. Todos vestiam preto e a caveira no braço já dizia que a menina estava em apuros.

Como podia ter sido tão burra – pensou -  Aquela voz há pouco estava bem diferente da vovó, mas o “meio gripada” serviu para enganá-la. O Lobo que havia imitado a vovó tão bem, agora ordenou a um de seus homens.

- Bota a porra da menina no saco, Matias!

Sem ter tempo de reagir, Chapeuzinho se viu com a cabeça enfiada em um saco plástico. Lutando para respirar, sentiu as primeiras porradas e o sangue escorrer do nariz quebrado. Então o saco foi tirado e o Lobo deu dois tapas na cara da menina.

- Cadê a porra da velha, sua piranha? Onde ela se escondeu, caralho?

Chapeuzinho tentou cuspir no Lobo, mas o saco já estava de novo em sua cabeça. Mais algumas porradas e então quando ela achava que ia desmaiar sem ar, o saco saiu de novo. A garota puxou o ar com força, quase gritando. Então o Lobo deu mais dois tapas para ela acordar direito.

- Fala, porra! Abre o bico, caralho! Senão eu vou abrir a porra de um buraco nessa merda da tua cabeça! – ele encostou uma pistola na têmpora da menina.

Quando ela ia falar, começaram os tiros. O Lobo foi atingido no colete e caiu no chão atordoado. Chapeuzinho se jogou também, quando o policial que a segurava foi atingido na cabeça.

***

Marquinhos VP estava começando a estranhar a demora. Fumava um baseado sentado na moto quando a Vovó apareceu.

- Moleque, vem comigo! Aquele filho da puta do Lobo invadiu aqui na surdina e estava no meu barraco quando a menina chegou. Eles devem ter pego ela e isso não vai ficar barato! Vamos massacrar esses “alemão”!

Vovó jogou um fuzil para Marquinhos. Ao passarem pela birosca da Baiana e começarem a subir o morro, vários homens armados se juntaram a eles. Ia ter guerra!

***

Os tiros duraram quase 5 minutos sem parar. Nenhuma das balas partiu de dentro do barraco. Foi um verdadeiro massacre. Os seis homens que estavam com o Lobo Mau não tiveram a mínima chance. Somente o Lobo e Chapeuzinho que estavam no chão sobreviveram. O Lobo estava bastante atordoado, depois do tiro aparado pelo colete, mas viu Chapeuzinho se levantar e apanhar um fuzil de um dos seus homens mortos e apontar pra ele.

- A casa um dia vai cair pra vocês, sua piranha! – praguejou.

- Piranha é o caralho! Meu nome é Chapeuzinho Vermelho, porra!

O tiro ecoou pelo morro e praticamente arrancou a cabeça do Lobo.

(Acho que escrevi algo parecido com isso quando estava na quinta ou sexta série. É claro que era uma historinha mais inocente, sem palavrões e muito menos violenta. Lembro que o Lobo era um agente do DEA Norte Americano, que queria pegar a vovó, a dona do morro. E era uma história bem doida, que tinha até um ex-piloto kamikaze que ajudava o Lobo na missão - ex-piloto kamikaze é hilário, né....bom, está uma historinha um pouco mais violenta, mas ainda brincando com o clássico infantil)


quarta-feira, 18 de maio de 2016

Uma cena qualquer - Além da imaginação


As belas pernas cruzadas não deixavam dúvidas de que tinha tirado a sorte grande. Geralmente nessas salas de bate papo da internet só se encontram mulheres feias. Já tinha desistido de muitos encontros ao avistar a garota no local combinado. Se não gostava do que via, dava às costas e voltava para casa ou ia para outro bar terminar a noite na companhia de copos e latas de cerveja. Dessa vez, abriu um enorme sorriso. As fotos enviadas pela garota eram verdadeiras!

Ela também sorriu ao avistá-lo.  O gesto lhe deu mais confiança e ele acenou enquanto atravessava a rua.

- Boa noite! – disse, tentando disfarçar o entusiasmo.

- Olá Nicolas! Muito bom não ter desistido! Achei que não acreditaria nas fotos! Primeiro ponto pra você! Sente-se e vamos continuar o jogo! Talvez você receba o prêmio máximo no final da noite! Quem sabe? O que vamos beber?

Nicolas pediu ao garçom uma cerveja belga à base de trigo e bastante perfumada.

- Dois pontos por essa escolha, gatinho! É a primeira vez que alguém pede uma cerveja em um encontro comigo! Geralmente os caras tentam impressionar com vinhos caros e acabam sempre dando uma de babacas!

O olhar de Nicolas estava fixo nos lábios cobertos pelo forte batom carmim que encontraram a borda do copo. Ele se deixou perder na imaginação: seus lábios tocando aqueles lábios. Suas mãos explorando cada centímetro daquele corpo escultural, abrindo o vestido e sentindo o calor da pele dela em seus dedos. Suas mãos chegando ao pescoço macio....

- Terra para Nicolas!  Ainda está aqui comigo?

- Desculpe...eu estava...estava pensando...- gaguejou.

- Sei muito bem o que você estava pensando, bobinho! Esse olhar de desejo merece mais alguns pontos! Eu vou te levar pra cama! Tomei a decisão ao te ver cruzando a rua. Vamos pular o jantar e dar o fora daqui!

Nicolas se levantou, ainda sem acreditar em como estava sendo fácil. Foram duas semanas de conversas pela internet. Depois trocaram telefone e conversaram por umas duas horas em uma fria madrugada. Assuntos banais e a maioria das informações trocadas eram mentiras. Ou será que não eram? Dois dias depois, marcaram o encontro.

Enquanto saiam, a garota não reparou que a programação musical na televisão do bar era interrompida para um plantão de notícias urgente. Mais uma vítima do estrangulador misterioso que estava agindo na região tinha sido encontrada.

Na cama redonda do motel, Nicolas realizou o que havia imaginado poucos minutos antes. Sentia o tesão crescendo entre as pernas. O jeans justo apertava, mas a dor era parte do prazer. Seus lábios saborearam os carnudos lábios da garota com batom carmim. Abriu o vestido vermelho e os lindos seios ficaram à mostra. Acariciou-a nas costas, subindo vagarosamente as mãos até que seus dedos tocaram a pele macia do pescoço. Então Nicolas fechou as mãos com força. Não houve chance de defesa. Após alguns minutos apertando cada vez mais forte, Nicolas gozou nas próprias calças e a garota estava morta.

Ele matava para ter prazer, pois nunca conseguira ir até o fim de um ato sexual com uma garota. Já tinha tentado também com homens. Mas sempre falhava antes da hora. Nunca chegava até o fim. Transformou sua frustração em sedução mortal. A mulher morta na cama do motel era sua décima primeira vítima. E ele havia começado há pouco mais de um ano. Uma vítima a cada 2 meses, mais ou menos.

Apoiado na pia do banheiro, se olhando no espelho e ainda sentindo o êxtase misturado ao cansaço do ato praticado, Nicolas percebeu que algo não estava certo. Foi como se um alarme sem som disparasse em sua cabeça. Nunca havia sido tão fácil!

O sangue do assassino congelou, quando viu pelo reflexo no espelho a garota morta se levantar na cama. Só que não era mais ela. Estava maior; mais forte. O rosto desfigurado e demoníaco.

- Achou mesmo que tinha tirado a sorte grande, docinho? Quem tirou fui eu, que adoro me alimentar de almas de assassinos!

Com uma velocidade inumana, a criatura agarrou Nicolas pelos ombros. Sua mandíbula dividiu-se em quatro, mostrando dentes pontiagudos como ferrões de um grande inseto. Eles agarraram o rosto de Nicolas rasgando a carne de seu queixo e quebrando os ossos logo abaixo de seus olhos. Era o beijo mortal do demônio. Nicolas não gritou.  

Defecou e urinou nas calças, perdido na imensa dor que sentia. Lentamente, a criatura sugava todo o seu sangue, toda sua carne e toda sua alma. Seu corpo murchou aos poucos, até restarem apenas as roupas sujas.

O demônio largou os trapos no chão e voltou-se para o espelho. A linda mulher de vermelho ajustou o vestido e retocou o forte batom carmim, antes de deixar o quarto.


(Meu autor favorito é o grande mestre Stephen King. Li recentemente Dr. Sono – continuação de O Iluminado – e Mr. Mercedez. Os dois são muito bons! Terminei de ler ontem o livro de memórias e técnicas de redação dele chamado Sobre a Escrita. Quis fazer um exercício sobre a criação de diálogos e então acabou saindo esse texto aí. Em Sobre a Escrita, King diz que há uma fase em que escrevemos “com a porta fechada” e não mostramos o texto para ninguém, mas eu tenho escrito “com a porta aberta” e colocado minhas loucuras aqui no blog. Tenho o cuidado de fazer uma pequena revisão em cada texto, mas eles estão bastante crus. Neste de hoje, fiz também uma revisão um pouco mais detalhada, alterando e cortando algumas partes. De uma primeira versão com 935 palavras, cheguei a essa que foi publicada com 791 palavras. Espero que estejam gostando).