terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Um pequeno conto de guerra - (Baseado em fatos reais)

Meus dentes batiam num ritmo frenético. A neve caia de maneira intensa, fazendo com que fosse possível enxergar apenas poucos metros à frente. Tudo ao redor parecia um filme em câmera lenta. Os sons estavam abafados e também pareciam em baixa rotação. Não era possível sentir mais os dedos em meus pés e o ar frio parecia farpas penetrando em meus pulmões a cada inspiração. Nunca imaginei que passaria tanto frio em minha vida. Mas a quilômetros e quilômetros de casa, lutando contra os Nazistas na Itália pela FEB, este era o menor dos meus problemas.

Havíamos marchado diretamente para uma emboscada. De repente estávamos no meio de meia dúzia de Panzers alemães e um sem número de soldados inimigos. Balas voavam e zuniam por cima de nossas cabeças, bombas e tiros disparados por tanques abriam crateras no terreno enquanto vidas eram ceifadas; corpos eram despedaçados. Vi vários companheiros pracinhas tombarem, uns sofrendo muito, outros sem nem ao menos perceber o que estava acontecendo.
O comando já havia dado a ordem para bater em retirada, mas não havia para onde correr, não havia para onde voltar. Foi então que avistei um buraco na neve, parecendo uma toca de algum animal. Corri até lá e me atirei achando finalmente ter encontrado um lugar “seguro”. Imediatamente ouvi vozes no buraco, gritando de lugar nenhum.

“Saia já daqui! Esse lugar é nosso! Não é pra você entrar aqui! Sai, sai!”
Mesmo sem acreditar e pensando estar enlouquecendo, saí daquele buraco aterrorizado. Quase que instantaneamente, outro soldado saltou para dentro em busca de salvação. Pobre coitado! O projétil enorme e com alto poder de destruição que partiu do tanque alemão atingiu milimetricamente o lugar que há poucos segundos tinha tomado como meu refúgio.

O deslocamento de ar provocado pela explosão me atirou no ar, com estilhaços rasgando minha pele e partindo alguns de meus ossos. E então, apenas silêncio e escuridão.
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Abri os olhos e vi que estava em um hospital de campo. Deitado em uma cama de campanha, uma faixa enrolada na cabeça, que latejava a cada batida do meu coração. O braço direito estava engessado até a altura do cotovelo e vi alguns pontos dados em um corte bastante grande em minha perna esquerda. Mas era isso e alguns arranhões. Nada grave. Meus braços e pernas continuavam ali e meu coração ainda batia no peito.

Não tenho a mínima ideia de como sobrevivi. A única coisa que sei é que fui encontrado no meio de alguns arbustos, inconsciente, quase dois dias depois. Quase metade dos homens em  meu pelotão pereceu naquela emboscada. Mas eu fui salvo pelas vozes que me expulsaram daquele buraco. Nunca contei isso pra ninguém, mas chegou a hora de compartilhar esta história com você, meu querido neto! Vovô vai descansar agora! Amo você!
E então, apenas silêncio e escuridão.
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(Este texto é baseado mesmo em uma história real, contada pra mim pelo avô de um amigo há cerca de uns 20 anos. Me lembrei dela hoje e achei que seria legal compartilhá-la!)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Impressões - The Hateful Eigth

The Hateful Eigth

Tarantino sendo Tarantino! Ame ou odeie! Eu simplesmente adorei.
Talvez o melhor filme de toda a carreira de Quentin Tarantino. O cara sabe contar uma história como ninguém. Roteiro muito bem amarrado. O filme é dividido em capítulos e é como se estivéssemos “vendo um livro”.

O elenco é recheado de nomes de peso com Kurt Russel, Michel Madsen, Tim Roth e Samuel “Modafoca” L. Jackson (sócios de carteirinha na filmografia de Tarantino). Traz também Bruce Dern e um surpreendente Channing Tatum, além de reacender a chama de Jennifer Jason Leigh, que pelo menos na minha memória recente não estava aparecendo muito nas películas de Hollywood. Todos, sem exceção, incluindo o restante do elenco que não citei, tiveram ótimas atuações.
A fotografia do filme é fantástica, trazendo muito dos westerns antigos. Planos amplos, com uma paisagem belíssima, a neve trazendo uma iluminação quase que natural para dentro do cinema. Tanto nas tomadas externas como nas tomadas internas e mais fechadas, a utilização da Ultra Panavision 70 (tipo de câmera muito utilizado entre nos anos 50 e 60), trouxe uma riqueza impressionante para as cenas.

A trilha sonora também é muito boa e foi composta por ninguém menos que o ícone do gênero western Enio Morricone.  

Como eu disse no início do texto, ame ou odeie! O nome do filme parece até mesmo uma brincadeira dele com isso. É o seu oitavo filme - “Os oito odiados”! Deu pra ouvir gente falando que o filme era chato durante a sessão e acho que teve uns dois ou três que saíram no meio da exibição. Chatos são esses que não compreendem os grandes trabalhos do Tarantino. The Hateful Eigth pode ter um ritmo mais lento que os outros filmes de Tarantino, mas é tenso do início ao fim. Queria saber o que ia acontecer, quem era quem, qual dos personagens era o bandido e qual era o mocinho! Me senti vendo um “Cães de Aluguel” no velho oeste. Há várias referências também á clássicos do gênero e também cenas que remetem a outros filmes dele mesmo. Em uma cena e que Samuel L. Jackson está em pé ao lado de outra personagem segurando armas, lembrei dele ao lado de John Travolta em uma cena de Pulp Fiction.

A história é simples e bem amarrada como já disse anteriormente, mas essa simplicidade é apenas superficial, pois o filme faz um paralelo muito interessante entre os personagens e a colonização americana. Há o negro, que luta contra o preconceito e desconfiança de todos; o coronel branco e racista ao extremo; o inglês colonizador; a mulher que é maltratada do início ao fim; o xerife representando a justiça que não é tão justa assim, sendo até mesmo burro e idiota. E acredito que essa visão crítica caracterizada pelas personagens se mantém nos dias de hoje na sociedade americana.
Se ainda não viu, não perca!

(Estou pensando em um canal de vídeos no You Tube. Esse texto nasceu de uma gravação no celular falando sozinho que achei muito legal. Como ainda sou um "zero a esquerda" com relação à edição e acho que vai demorar um pouco pra ficar pronto, transcrevi o texto com um pouco mais de seriedade para postar aqui no blog - espero que gostem e se puderem me sigam no twitter @educabrini)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Poeira de Estrela


Após a morte de Lemmy do MotorHead há poucos dias, ontem perdemos David Bowie o pai de Ziggy Stardust (ou será que perdemos Ziggy o pai de David Bowie?) Isso me fez refletir e constatei que em breve, não terei mais nenhum  ídolo vivo! Meus ídolos são os ídolos de meus pais, meus tios. Paul McCartney, Mick Jagger, Ozzy, David Gilmour, Roger Waters, Carlos Santana, Eric Clapton, Keith Richards, só para citar alguns, estão todos na casa dos 70 anos ou próximos dela.

Meus ídolos mais novos já passaram dos 50! Bono, The Edge, os Chilli Peppers, toda a galera do Iron Maiden (inclusive o grande Bruce Dickinson já venceu um câncer).  E os ídolos (ou candidatos a) da minha geração, que talvez  estivessem hoje com a minha idade,  entre 35 e 45 anos, já se foram - Kurt Cobain, Renato Russo, Amy Winehouse.

Há vários músicos e bandas que eu curto pra caramba hoje (Foo Figthers, Muse, Korn, The Black Keys), mas nenhum deles me desperta essa idolatria que tínhamos e temos por muitos dos que citei.

O que será de nós, quando eles se forem?

Quem são nossos ídolos de hoje?

Nossos ídolos estão partindo. Será que o título de heróis é muito para defini-los?

Um amigo escreveu que a música de David Bowie foi a trilha sonora de um importante momento da vida dele. Não foi só para ele.  Quem não se arrepia ao ouvir Heroes? Quem nunca ouviu Lets Dance? Starman?

Muitos músicos nos marcam para sempre! As vezes é possível sentir até o cheiro da nossa infância ou adolescência só de ouvir ou lembrar de uma música.

Ontem, a odisséia espacial de David Bowie começou. 

This is ground control to Major David: rest in Peace!

(Aqui é o controle terrestre para Major David: descanse em Paz)

E roubando mais uma idéia que um amigo escreveu: foi-se o homem, para enfim nascer o mito! Afinal, acho que poeira de estrela nunca deixa de existir!