Esta é a história de um
homem que caminha rumo ao desconhecido. Sem saber os motivos que o levam a
isso, mas com uma certeza; deve continuar em frente. A história aqui contada
foi, e continua sendo escrita por Norhorn Coração de Aço.
Capitulo I - Um nascimento; um desafio.
A escuridão era quase
total nas montanhas da região de Sang naquela noite fria. Somente era possível
enxergar o recorte dos grandes picos no horizonte, quando os olhos dos Deuses
brilhavam em relâmpagos. O estrondo dos trovões era ensurdecedor, mas não
encobria o “uivo” dos ventos, que castigavam as rochas impiedosamente. Na
pequena vila de Sangren, que ficava mais ou menos na metade da encosta, uma
modesta cabana, um pouco mais afastada, lutava para permanecer em seu lugar. E
havia outra luta acontecendo lá dentro; a luta de uma mulher contra a dor do
parto.
Os gritos eram uma mescla da dor com o desespero. O desejo de que tudo em volta
não mais existisse era um dos únicos pensamentos que Alliora Estrela da Manhã
conseguia ter. Um dos únicos porque havia algo mais em que ela pensava; a
morte.
Não tinha sido assim em seu outro parto, quando ela deu à luz ao primeiro;
aquele que levaria consigo o destino de uma família. Beldalis Vento da Montanha
era seu nome, e ele teria um papel muito importante no destino daquele que
viria ao mundo em uma noite escura de tempestade. A dor havia sido menor e tudo
havia acontecido num curto intervalo entre duas brisas. Mas agora, até mesmo
Beldac Montanha Escura, parecia estar com medo. Seus olhos estavam fixos,
imóveis, assustados. Nem mesmo os gritos de sua bela e amada esposa pareciam
tirá-lo do transe em que estava. Via a morte, que respondera aos chamados de
Alliora. Tudo estava perdido.
Então, um forte vento
abriu a porta com violência e a escuridão foi extinta novamente por alguns
segundos, quando um raio atingiu uma árvore próxima. E com a luz, uma esperança
surgiu. Beldalis estava voltando, e com ele vinha Norhorn Coração de Aço, irmão
de Alliora.
Beldac, então, pareceu sair de seu transe e dirigiu-se rapidamente até a porta,
bloqueando a entrada dos dois. E com uma voz sombria disse que Norhrn não era bem-vindo
em seu lar:
- Não ouse se aproximar, você não deve interferir no destino. Você já tentou
uma vez, quando quis impedir que eu me casasse com ela. Agora ela é minha
esposa, está em minha casa e não há nada que você possa fazer. Se a morte tiver
que levá-la junto com meu segundo filho, é assim que tem que ser.
Norhorn levantou a cabeça
e olhou profundamente nos olhos dele.
- Você e suas palavras
sobre destino. Quem é você para falar sobre uma coisa que não entende?
Empurrou Beldac, entrou na cabana em silêncio e dirigiu-se até o leito. Sentia
a dor e o desespero de sua irmã cortando o ar. Isso feria seu nobre coração.
Ajoelhou ao lado da cama e
começou a falar em uma língua desconhecida. Suas palavras eram doces, mas em
alguns momentos pareciam desafiar alguma coisa. Por cerca de cinco minutos ele
continuou falando e a paz foi tomando conta de Alliora, que adormeceu. O choro
de uma criança cortou o silêncio, que agora era absoluto, mesmo com a
tempestade que castigava a região. Norhorn pegou a criança recém-nascida e a
ergueu.
- Minha querida irmã, você
trouxe mais um menino ao mundo. E do mesmo modo que a chegada dele foi difícil,
também será assim a jornada. Ele precisa de um nome que lhe traga força e
confiança. Ele será Kanrock Dragão da Montanha e assim terá a força e resistência
das rochas destas terras e a sabedoria e inteligência dos grandes dragões que
habitaram este mundo em eras passadas.
Beldac interrompeu
furioso.
- Como ousa querer nomear
aquele que tem meu sangue, ferreiro insolente.
Alliora respondeu com firmeza.
- Ele também tem o meu
sangue, que corre da mesma forma nas veias de meu irmão. E se não fosse por
Norhorn nem eu e nem seu segundo filho estaríamos aqui agora. Então, como mãe,
faço minhas as palavras de meu irmão. Kanrock Dragão da Montanha será o nome
dele.
- Se assim o quer, minha amada Alliora, assim será então. – respondeu Beldac se
virando e caminhando para fora da cabana com um brilho sinistro nos olhos –
Assim será!
Enquanto se afastava, dirigindo-se para o centro da vila, dois raios
simultâneos atingiram as árvores que ficavam ao lado da casa.
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(Este texto foi escrito em 2006, quando eu estava criando uma personagem para uma campanha de Dragonlance - RPG medieval. Hoje resolvi reeditá-lo e compartilhá-lo com vocês. Essa campanha foi épica, principalmente porque os jogadores criaram personagens fantásticas, com profundidade de detalhes e o mestre soube "encaixar" muito bem os detalhes de cada um deles na história. Ainda penso em desenvolver essa história de Kanrock, talvez em um conto ou então uma noveleta - apesar de várias ideias, ainda estou tímido para tentar escrever um romance)