Soraia subiu
as escadas do antigo casarão com duas bolsas cheias de equipamentos penduradas
nos braços e mais duas câmeras com as correias enroladas no pescoço. Até que
não tinha sido tão ruim entrar na casa quanto parecera quando estavam do outro
lado da rua. Havia sim algo de sinistro com o velho casarão, mas aquilo devia
ser apenas fruto das histórias que ela havia escutado sobre o local.
Não sendo uma
nativa da cidade, Soraia soube das lendas apenas poucos dias atrás, quando o
namorado pediu se ela não poderia substituir o outro assistente do Professor
Rodolfo Freitas. O rapaz havia quebrado o pé, ao escorregar na escadaria
defronte à Biblioteca Municipal, justamente após fazer algumas pesquisas sobre
a mansão abandonada. Soraia topou, achando graça no tipo de pesquisa feita pelo
professor e sem dar tanta credibilidade às histórias do local. Foi só após ter
diversos pesadelos com a casa, que passou a ter certo receio.
No topo das
escadas, Soraia encontrou a porta do banheiro onde o professor queria instalar
aqueles equipamentos. Entrou e começou a posicionar os medidores de campos
eletromagnéticos, microfones e câmeras.
Após alguns
minutos no cômodo, reparou que a pia estava pingando. Gota após gota,
vagarosamente. No silêncio quase sepulcral da casa, o som das gotas caindo na
água suja acumulada no ralo entupido, começou a incomodá-la. Apertando a torneira velha e enferrujada, as
gotas pararam de cair. Soraia continuou a instalar os equipamentos.
Concentrada na
colocação de uma câmera no canto superior do teto, sobre um pequeno banquinho dobrável
que ela havia subido juntamente com o restante do equipamento, Soraia quase
caiu com o susto que levou. A torneira voltou a pingar de repente. Ela riu de
si mesma, mas no fundo o riso era para aliviar a tensão. Havia algo de sinistro
com o velho casarão e a sensação de Soraia sobre isso estava aumentando. Apertou
novamente a torneira.
Ao se virar,
novas gotas caíram. A velocidade delas aumentava. Pingando cada vez mais
rápido. Cada vez mais rápido. Os ombros de Soraia seriam um indicativo para
qualquer observador de que agora ela estava extremamente tensa. Tentou apertar
novamente a torneira. Mas as gotas não paravam. Os pingos caiam cada vez mais
rápido. Cada vez mais rápido.
O barulho das
gotas caindo na água podre e parada, acumulada no ralo entupido, parecia
incomodar cada vez mais. Seus ouvidos começaram a doer a cada pingo. O fluxo
aumentou mais e Soraia tirou as mãos da velha torneira enferrujada e as levou
aos ouvidos. Tentava fazer o som diminuir. Mas o som das gotas parecia estar
diretamente em sua cabeça. Cada vez mais rápido. Cada vez mais alto.
Então Soraia
ouviu o próprio grito de horror, quando a porta do banheiro bateu sozinha.
(Demorei, mas postei! Segunda parte do texto de 06/07! E ainda vai ter mais sobre o velho casarão! Aguardem! Galera, hoje gravei o primeiro vídeo do Manifesto Irracional para o YouTube. Em breve vou colocar no ar. Ainda sem muita edição, no improviso, mas com o peito aberto para trocar mais ideias com vocês de um jeito diferente. Valeu!)