quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Apócrifos


Ato I

O som dos trovões ecoava pela Times Square. Penetrava fundo na alma de cada uma das pessoas que estavam ali reunidas desde as primeiras horas da alvorada. O pavor estava estampado em todos os rostos. Os corações estavam congelados pelo medo. Os trovões nada mais eram do que as trombetas que anunciavam o apocalipse.

No céu, milhões de vultos negros alados se aproximavam. E todos sabiam que não haveria como escapar. O arrependimento de nada adiantaria. Os atos cometidos durante toda a vida até aquele momento já estavam registrados nos livros sagrados.

Todos hipócritas e pecadores. Agora iriam pagar.

O ataque foi rápido. Os milhões de anjos desceram dos céus e arrebataram as almas dos pecadores com suas espadas ardentes. Homens, mulheres e crianças. Todos tinham pelo que pagar. E quando as espadas cortavam a carne, o corpo era imediatamente desintegrado. As almas eram sugadas pelas lâminas em chamas.

Quando o massacre terminou, apenas uma menina de oito anos permanecia em pé, viva. Assustada e aparentando estar em choque.

Foi a única alma pura deixada para trás em toda a costa leste dos Estados Unidos.


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Banho de mangueira

Ouvi as risadas de longe! A alegria se propagava nas ondas sonoras e atingiram meus ouvidos como uma doce sinfonia. O som das gotas d'água tocando o chão quente de uma tarde primaveril complementavam a música que me chamava.

Saindo da casa, vi minha mulher que regava o jardim com a mangueira virada para longe das plantas. A água molhava meu pequeno príncipe, que corria rindo aos montes só de cuequinha.

Refletida nas gotas d'água, pude ver a alegria que de seus olhos emanava.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O menino!

O menino correu, brincou e sorriu o dia inteiro! Com ele sorriu meu coração!
O brilho nos olhos do menino, fez brilhar também os meus!
Amor puro e verdadeiro!

(Te amo filho! E sei que hoje você teve um incrível Dia das Crianças)

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A Travessia


Podia ver a luz do sol alguns metros à frente. Ainda faltava um pouco, mas estava quase chegando ao destino. O calor sufocante e os mosquitos e outros insetos deixaria de ser um problema em breve.

Seu rosto estava arranhado e alguns ferimentos ainda sangravam. Foram provocados por galhos quando adentrou a densa floresta após o término da trilha. Podiam achar que ele era louco, mas não queria dividir seu sonho com ninguém. Então, partiu sozinho.

Deixou os últimos galhos e árvores para trás. E viu-se defronte à um enorme penhasco. Um pouco à direita do outro lado, uma enorme queda d’água descia como um véu. Seus olhos brilhavam.

Não localizou a ponte que deveria estar ali. Ao menos não imediatamente. Mas olhando com mais atenção, viu seu próximo desafio, um pouco à esquerda. A travessia exigiria muita, mas muita coragem.

A ponte era feita de cipós e galhos. Tinha cerca de 70 metros. E devia estar ali há muitos anos.

Prendeu uma corda de segurança em uma árvore próxima. Mas era apenas uma falsa segurança. Se a ponte não resistisse, mesmo com a corda ele poderia se ferir e estava sozinho. Poderia acabar morrendo pendurado, sem conseguir voltar. Sangrar até a morte ou o pior dos casos, morrer de fome.

Deu o primeiro passo! A ponte balançou, mas aguentou o peso.

Um passo de cada vez, avançou. Mesmo com a ansiedade aumentando por estar tão próximo ao seu objetivo, tentava manter a calma e caminhava lentamente. Chegou à metade da ponte sem problemas. O som da cachoeira aumentava a cada passo.

Mais um passo...

Sentiu a perna afundar quando a tábua em que pisou se rompeu. O coração disparou quando pensou que sua travessia tinha chegado ao fim. A ponte iria se quebrar com sua queda e ele não iria conseguir se segurar. Iria virar um pêndulo e bater com toda força nas pedras do precipício.

Mas foi somente um susto. A ponte resistiu, se segurou e conseguiu se levantar e continuar. Ainda com mais cuidado, continuou o avanço. Chegou ao outro lado suando muito e bastante ofegante.

Há poucos metros dali, estava a queda d’água. Ele sabia que ali iria encontrar a passagem para o seu sonho. Poucos passos o separavam dele.

Ouviu um zumbido e imediatamente levou à mão ao lado do pescoço. Algum inseto o picara. Começou a sentir tontura e enquanto perdia os sentidos, conseguiu pegar o inseto e arrancá-lo da pele. Ao levar a mão para frente do rosto, viu que não era um inseto. Em meio à nevoa que se formava enquanto seus sentidos o abandonavam viu o que parecia ser um dardo de madeira.