As belas pernas cruzadas não
deixavam dúvidas de que tinha tirado a sorte grande. Geralmente nessas salas de
bate papo da internet só se encontram mulheres feias. Já tinha desistido de
muitos encontros ao avistar a garota no local combinado. Se não gostava do que
via, dava às costas e voltava para casa ou ia para outro bar terminar a noite
na companhia de copos e latas de cerveja. Dessa vez, abriu um enorme sorriso.
As fotos enviadas pela garota eram verdadeiras!
Ela também sorriu ao avistá-lo. O gesto lhe deu mais confiança e ele acenou enquanto
atravessava a rua.
- Boa noite! – disse, tentando
disfarçar o entusiasmo.
- Olá Nicolas! Muito bom não ter desistido!
Achei que não acreditaria nas fotos! Primeiro ponto pra você! Sente-se e vamos
continuar o jogo! Talvez você receba o prêmio máximo no final da noite! Quem
sabe? O que vamos beber?
Nicolas pediu ao garçom uma
cerveja belga à base de trigo e bastante perfumada.
- Dois pontos por essa escolha,
gatinho! É a primeira vez que alguém pede uma cerveja em um encontro comigo!
Geralmente os caras tentam impressionar com vinhos caros e acabam sempre dando
uma de babacas!
O olhar de Nicolas estava fixo
nos lábios cobertos pelo forte batom carmim que encontraram a borda do copo.
Ele se deixou perder na imaginação: seus lábios tocando aqueles lábios. Suas
mãos explorando cada centímetro daquele corpo escultural, abrindo o vestido e
sentindo o calor da pele dela em seus dedos. Suas mãos chegando ao pescoço
macio....
- Terra para Nicolas! Ainda está aqui comigo?
- Desculpe...eu estava...estava
pensando...- gaguejou.
- Sei muito bem o que você estava
pensando, bobinho! Esse olhar de desejo merece mais alguns pontos! Eu vou te
levar pra cama! Tomei a decisão ao te ver cruzando a rua. Vamos pular o jantar
e dar o fora daqui!
Nicolas se levantou, ainda sem
acreditar em como estava sendo fácil. Foram duas semanas de conversas pela
internet. Depois trocaram telefone e conversaram por umas duas horas em uma
fria madrugada. Assuntos banais e a maioria das informações trocadas eram
mentiras. Ou será que não eram? Dois dias depois, marcaram o encontro.
Enquanto saiam, a garota não reparou
que a programação musical na televisão do bar era interrompida para um plantão
de notícias urgente. Mais uma vítima do estrangulador misterioso que estava
agindo na região tinha sido encontrada.
Na cama redonda do motel, Nicolas
realizou o que havia imaginado poucos minutos antes. Sentia o tesão crescendo
entre as pernas. O jeans justo apertava, mas a dor era parte do prazer. Seus
lábios saborearam os carnudos lábios da garota com batom carmim. Abriu o vestido
vermelho e os lindos seios ficaram à mostra. Acariciou-a nas costas, subindo
vagarosamente as mãos até que seus dedos tocaram a pele macia do pescoço. Então
Nicolas fechou as mãos com força. Não houve chance de defesa. Após alguns
minutos apertando cada vez mais forte, Nicolas gozou nas próprias calças e a
garota estava morta.
Ele matava para ter prazer, pois
nunca conseguira ir até o fim de um ato sexual com uma garota. Já tinha tentado
também com homens. Mas sempre falhava antes da hora. Nunca chegava até o fim. Transformou
sua frustração em sedução mortal. A mulher morta na cama do motel era sua
décima primeira vítima. E ele havia começado há pouco mais de um ano. Uma
vítima a cada 2 meses, mais ou menos.
Apoiado na pia do banheiro, se
olhando no espelho e ainda sentindo o êxtase misturado ao cansaço do ato
praticado, Nicolas percebeu que algo não estava certo. Foi como se um alarme
sem som disparasse em sua cabeça. Nunca havia sido tão fácil!
O sangue do assassino congelou,
quando viu pelo reflexo no espelho a garota morta se levantar na cama. Só que
não era mais ela. Estava maior; mais forte. O rosto desfigurado e demoníaco.
- Achou mesmo que tinha tirado a
sorte grande, docinho? Quem tirou fui eu, que adoro me alimentar de almas de
assassinos!
Com uma velocidade inumana, a
criatura agarrou Nicolas pelos ombros. Sua mandíbula dividiu-se em quatro, mostrando
dentes pontiagudos como ferrões de um grande inseto. Eles agarraram o rosto de
Nicolas rasgando a carne de seu queixo e quebrando os ossos logo abaixo de seus
olhos. Era o beijo mortal do demônio. Nicolas não gritou.
Defecou e urinou nas calças, perdido
na imensa dor que sentia. Lentamente, a criatura sugava todo o seu sangue, toda
sua carne e toda sua alma. Seu corpo murchou aos poucos, até restarem apenas as
roupas sujas.
O demônio largou os trapos no chão
e voltou-se para o espelho. A linda mulher de vermelho ajustou o vestido e retocou
o forte batom carmim, antes de deixar o quarto.
(Meu autor favorito é o grande mestre Stephen King. Li
recentemente Dr. Sono – continuação de O Iluminado – e Mr. Mercedez. Os dois
são muito bons! Terminei de ler ontem o livro de memórias e técnicas de redação
dele chamado Sobre a Escrita. Quis fazer um exercício sobre a criação de
diálogos e então acabou saindo esse texto aí. Em Sobre a Escrita, King diz que
há uma fase em que escrevemos “com a porta fechada” e não mostramos o texto
para ninguém, mas eu tenho escrito “com a porta aberta” e colocado minhas
loucuras aqui no blog. Tenho o cuidado de fazer uma pequena revisão em cada
texto, mas eles estão bastante crus. Neste de hoje, fiz também uma revisão um pouco mais detalhada, alterando e cortando algumas partes. De uma primeira versão com 935 palavras, cheguei a essa que foi publicada com 791 palavras. Espero que estejam gostando).
Excelente!
ResponderExcluirQue bom que está gostando! Valeu pela visita!
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