quarta-feira, 20 de julho de 2016

O Casarão - parte 2


Soraia subiu as escadas do antigo casarão com duas bolsas cheias de equipamentos penduradas nos braços e mais duas câmeras com as correias enroladas no pescoço. Até que não tinha sido tão ruim entrar na casa quanto parecera quando estavam do outro lado da rua. Havia sim algo de sinistro com o velho casarão, mas aquilo devia ser apenas fruto das histórias que ela havia escutado sobre o local.

Não sendo uma nativa da cidade, Soraia soube das lendas apenas poucos dias atrás, quando o namorado pediu se ela não poderia substituir o outro assistente do Professor Rodolfo Freitas. O rapaz havia quebrado o pé, ao escorregar na escadaria defronte à Biblioteca Municipal, justamente após fazer algumas pesquisas sobre a mansão abandonada. Soraia topou, achando graça no tipo de pesquisa feita pelo professor e sem dar tanta credibilidade às histórias do local. Foi só após ter diversos pesadelos com a casa, que passou a ter certo receio.

No topo das escadas, Soraia encontrou a porta do banheiro onde o professor queria instalar aqueles equipamentos. Entrou e começou a posicionar os medidores de campos eletromagnéticos, microfones e câmeras.

Após alguns minutos no cômodo, reparou que a pia estava pingando. Gota após gota, vagarosamente. No silêncio quase sepulcral da casa, o som das gotas caindo na água suja acumulada no ralo entupido, começou a incomodá-la.  Apertando a torneira velha e enferrujada, as gotas pararam de cair. Soraia continuou a instalar os equipamentos.

Concentrada na colocação de uma câmera no canto superior do teto, sobre um pequeno banquinho dobrável que ela havia subido juntamente com o restante do equipamento, Soraia quase caiu com o susto que levou. A torneira voltou a pingar de repente. Ela riu de si mesma, mas no fundo o riso era para aliviar a tensão. Havia algo de sinistro com o velho casarão e a sensação de Soraia sobre isso estava aumentando. Apertou novamente a torneira.

Ao se virar, novas gotas caíram. A velocidade delas aumentava. Pingando cada vez mais rápido. Cada vez mais rápido. Os ombros de Soraia seriam um indicativo para qualquer observador de que agora ela estava extremamente tensa. Tentou apertar novamente a torneira. Mas as gotas não paravam. Os pingos caiam cada vez mais rápido. Cada vez mais rápido.

O barulho das gotas caindo na água podre e parada, acumulada no ralo entupido, parecia incomodar cada vez mais. Seus ouvidos começaram a doer a cada pingo. O fluxo aumentou mais e Soraia tirou as mãos da velha torneira enferrujada e as levou aos ouvidos. Tentava fazer o som diminuir. Mas o som das gotas parecia estar diretamente em sua cabeça. Cada vez mais rápido. Cada vez mais alto.

Então Soraia ouviu o próprio grito de horror, quando a porta do banheiro bateu sozinha.
(Demorei, mas postei! Segunda parte do texto de 06/07! E ainda vai ter mais sobre o velho casarão! Aguardem! Galera, hoje gravei o primeiro vídeo do Manifesto Irracional para o YouTube. Em breve vou colocar no ar. Ainda sem muita edição, no improviso, mas com o peito aberto para trocar mais ideias com vocês de um jeito diferente. Valeu!)

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